segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Manias de um excêntrico temperamental

Como começou? Talvez tenha sido com uma pequena fuga de água que lhe permitia atingir temperaturas estonteantes, ao ponto de ter que parar na auto-estrada. Claro que esta doença fugia ao seu controlo, não o posso culpar. Acontece. O mau feitio é que já não acontece. O não obedecer já é uma constante. O vidro de trás do lado direito não abre nem fecha, ou melhor, vai abrindo à revelia do botão, deslizando pelas borrachas até provocar uma ligeira corrente de ar, um friozinho que incomoda dentro do carro, quando conduzo a velocidade elevada (mas sempre dentro dos limites…do próprio carro). Para o fechar tenho que puxá-lo à lá old school, uma mão de cada lado e cá vai disto para cima outra vez. A porta de trás do lado contrário ao vidro manhoso não abre. E desta vez é mesmo não abre. Não há manhas nem truques. Simplesmente o fecho deixou de funcionar, e ainda bem que não morreu no modo aberto. O tecto de abrir viu toda esta insubordinação passar incólume e também se demitiu de funções, com uma agravante – abrir tudo bem, sim senhor, mas fechar já não é com sua excelência. Embora possa parecer divertido andar com o tecto de abrir corrido em dias de calor, por esta altura não é nada agradável. Mesmo. Pelo meio isto. O alarme dispara sempre que eu entro. Pronto, exagero de quem escreve emocionado. O alarme dispara sempre que se abre a porta do condutor, o que, curiosamente, é algo frequente. Para nem falar no leitor de cd´s que só os lê nas primeiras terças feiras de dois em dois meses.
Até aqui, admito que com algum desconforto, conseguia sobreviver. Em dias regados com boa disposição até encontrava alguma piada nestas artimanhas. Porém para sua excelência de passo acelerado e olhar altivo não era suficiente. Não. Necessita fazer jus ao apelido de temperamental. Como? Pelo mais básico. Brindar-me a toda a hora com a incerteza. Aproximar-me tenso, abrir o carro, desligar o alarme à sexta tentativa, sentar e respirar fundo. O momento que marcará o rumo do dia – chave na ignição, primeiro rodar. O ansiar, a expectativa, a dúvida. E o drama, já agora. Segundo rodar e…nada. Absolutamente nada. Um ligeiro estalido proveniente do mais recôndito, do mais fundo do motor. Não me apetece andar. E eu que faço? Engato em quinta, empurro um pouco para a frente e para trás – um leve baloiçar como um brinquedo de criança – e espero que resulte. Por vezes sei que fica satisfeito só por me ver fazer estas figuras no estacionamento. Outras, como aconteceu à dois dias, não arreda pé, literalmente, e eu como só preciso novamente dele no domingo não lhe ligo, desprezo-o e mantenho-o ao alcance do orvalho que cai implacavelmente. Domingo lá terei que o empurrar rua abaixo para tentar impor alguma autoridade, há muito perdida.
Sempre que oiço falar em carjacking penso, inevitavelmente, no azar que os senhores teriam se tentassem isso com o meu (está visto que não me pertence). Aliás, penso que esta seria uma novidade neste ramo – eu é que impingia o carro aos supostos assaltantes. Soubessem eles do mau feitio e fugiam, a sete pés.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

Da secção: Onde está o Chou Riçá?

Primeira e única vez que abordarei a temática natal

Férias de natal é um eufemismo. O meu imaginário de férias (reparou atento leitor como usei este substantivo para remeter o conceito de férias para algo pouco tangível?) não está preenchido com agitações, jantares, encontros, muitos deles forçados, verdadeiros contra-relógios pela prenda perfeita, trânsito ou artérias (minhas e as da cidade) a rebentar de tanta circulação. Já há alguns anos que o meu nariz entupiu (raio da sinusite) e deixou de me cheirar a natal. Não há renas e estrelas de luz ou pinheiros coloridos que me façam despertar algum sentimento natalício. Muito menos os denominados jingles da rádio. Só sinto uma coisinha dentro do peito, um sorriso, um bem-estar, uma alegria tímida e inexplicável quando estou em casa e vejo o corrupio, os doces, o calor da lareira, o E.T e o sozinho em casa. Não sou cristão, porém reconheço a grandiosidade desta quadra (desculpe assíduo leitor mas tinha que usar esta palavra), a extrapolação para a reunião, a família e o bacalhau (em minha casa é o que se come). Não acredito no consumismo fácil, no enviesamento do espírito (outra que tinha que figurar no texto), na procura desenfreada de prendas para tudo e todos, numa tentativa, por vezes patética, de compensar trezentos e sessenta e cinco dias de total alheamento.

Claro.

Sou o verdadeiro desejo dos senhores do marketing, excepto aquela parte referente ao poder de compra. Por estes dias, o melhor é fechar-me em casa pois quando saio transformo-me numa verdadeira esponja que absorve todo o consumismo que anda no ar. Nem sou de comprar muitas prendas (que o digam quem sofre com o meu esquecimento e desatenção) mas por esta altura apetece-me comprar tudo. TUDO. Encher as pessoas de prendas. Depois a incerteza…será que vai gostar? Será que chega? E para ti? E para ti? E para ti? É a correria, a azáfama, as renas e estrelas de luz, os pinheiros coloridos e as músicas irritantes. E para mim? Uns trocos eram bem-vindos…

Eu, na minha pessoa (algo novo, excelso leitor), desejo um feliz natal, seja lá o que isso quer dizer, a todos os leitores deste magnífico blogue. Aos outros não desejo nada, o que lhes é indiferente pois nunca o saberão.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Num jornal aqui da vila



Massagem relaxante
Profissional, com marquesa.
Elimine dores e tensões musculares do dia-a-dia.
Também descompressão ou sexo.


sábado, 13 de dezembro de 2008

CRM aplicado

Não tenho o hábito de ver o correio todos os dias, e não me refiro ao electrónico. Sei que só vou encontrar facturas e publicidade, embora faça questão de ter um autocolante daqueles que diz algo parecido com publicidade não endereçada aqui não. Admito que possa ser uma mensagem algo confusa e pouco clara, por isso não me chateio muito, pego nos folhetos e enfio nas caixas da vizinhança. O que me leva a pensar que recebo publicidades de pichelaria porque existe algum anormal que faz o mesmo…Na vistoria semanal à caixa reparo num envelope demasiado pequeno para ser da agere mas também um pouco mais distinto dos folhetos. Retiro-o e numa escrita manual apresenta-se como dirigido ao senhor morador. Entro, percorro os três andares (mentira, foi o elevador que os percorreu) e já em casa abro-o. Uma carta, também ela escrita à mão, numa caligrafia redonda, daquela redonda de quem aprendeu a escrever aos 47 anos. Começo a ler,


Moro na vizinhança, por não ter conseguido falar consigo pessoalmente, estou deixando algumas informações importantes.

Uma introdução daquelas que nos obriga a continuar. Quem é esta pessoa que me escreve e o que de tão importante terá para me dizer, tendo em conta que se deu ao trabalho de me deixar uma carta já que não conseguiu falar pessoalmente comigo.


Participo de uma obra realizada por voluntários em mais de 200 países. Em todos eles convidamos as pessoas a beneficiar-se de um programa que as ajuda a descobrir respostas a perguntas importantes, como: Porque envelhecemos e morremos? Qual é o objectivo da vida? Como se pode encontrar a verdadeira felicidade?

Ora bem, participa de uma obra…começo a torcer o nariz. Mas, de súbito o inesperado acontece. Anos a atormentar-me com reflexões infrutíferas sobre a vida, a morte e mesmo a felicidade, e, sem que nada o fizesse prever, as respostas batem-me literalmente à porta. Anos de suplício, de sofrimento, de desgaste mental, de noites em branco e finalmente a luz, as respostas! Porém, quando a esmola é grande…continuo,


Participamos dessa actividade porque estamos genuinamente interessados em nossos vizinhos. Nosso trabalho não tem fins comerciais.

Espero em breve conseguir falar pessoalmente consigo. Sinta-se à vontade para entrar em contacto connosco através do endereço abaixo.

Respeitosamente, (…)

Oh alegria! Oh felicidade! Finalmente acabaram-se as pequenas conversas de circunstância sobre o tempo com os vizinhos quando ocasionalmente partilhamos os elevadores. Agora, sempre que nos encontrarmos podemos discutir o verdadeiro sentido da vida. Obrigado por me terem contactado, obrigado por se interessarem pelo bem-estar da comunidade de lamaçães. Não sei se terei tempo para entrar em contacto mas espero sinceramente uma nova visita aqui ao meu tasco.



Adenda: qual velho do Restelo, confesso que as ditas novas tecnologias desferiram a machadada final no correio tradicional, o que é uma pena, sabe bem receber cartas. Temática que merece algo mais que uma simples adenda.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

...

Vive cada dia como se fosse o último, como nos morangos, tás a ver, que foram beber a essas prosas de salão de cabeleireira. Vive cada dia como se fosse o último. Se soubesse que não te voltaria a ver, não suportaria a despedida. Já a evitei, cobarde, não subi ao segundo andar do lar. Não quis ver, sabia que era a última vez. Balbuciei que não conseguia, queria guardar outras memórias, outras imagens. A angústia da última vez. Como a certeza do último beijo. Que não voltaria a sentir aqueles lábios. O fim. Não, volta só mais uma vez. A separação. Queda livre sem pára-quedas, a derrocada de todas as convicções. Pensei que irias ficar sempre por perto, embora conhecesse a efemeridade e o engano deste pensamento. Refúgios. Sempre refúgios. Porque não consigo viver cada dia como se fosse o último. Prefiro ser surpreendido a perpetuar uma despedida. Não me digam o que sentir. Muito menos o que não sentir. Acalento a minha angústia, a minha comiseração, os meus estados mais cinzentos mas a verdadeira tristeza quero-a bem longe de mim.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dois senhores que hablan español

Bloguer proeminente da esfera blogocoisa bracarense ocupa os primeiros lugares da mesa do café.

Bloguer lido pelos amigos em dias de tédio é o último a sentar-se e consegue ficar virado para o jogo transmitido na tv.


Bloguer cujos posts são os mais informativos da blogoesfera pede uma torrada.

Bloguer cujo Moleskine está avaliado em 2,5€ pede uma asandes de atum, porque não havia bifana.


Bloguer atento ao panorama sócio-económico-cultural nacional e quiçá internacional pede um café.

Bloguer que acha que o euribor é uma agência de madeiras da Noruega olha para a mesa, apenas vê chás, cafés, meias de leite, inibe-se de pedir uma cerveja e opta pela cola.


Bloguer que não se esconde atrás de pseudónimos e assina com três nomes pega no DN.

Bloguer que escreve coisas deste calibre não hesita e escolhe a bola em vez do jogo, embora já tenha lido todas as notícias do dia no site.


Bloguer activo nessas coisas da sociedáde e da política conversa sobre os temas da actualidade.

Bloguer que come sem guardanapos, sujando tudo num raio de 20cm, discute enquanto mastiga a importância de manter o Meyong em campo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Job satisfaction

O que pensar quando reparamos que o toque do telemóvel que um dos nossos chefes tem na mão é o "I don't feel like dancing"?

Depois percebe-se que não é o telemóvel dele. Mas que é um efeito visual espectacular, lá isso é...

Sindicalistas

Hoje há mais uma greve dos professores. O gajo da Fenprof (que já ninguém o pode ouvir) diz que é a maior de sempre. Faz-me lembrar os putos. A minha é maior que a tua, eu jogo melhor porque faço mais fintas, eu sou o melhor de sempre. Acho que já ninguém sabe porque é que se manifestam. A sério. Alguém que saiba que explique nos comentários deste post. Eu percebo que tenham alguns motivos. Todos temos sempre motivos para discordar, faz parte da condição humana. Mas acho sinceramente que já se ultrapassou a barreira do razoável, entrando já no ridículo. Já perdemos a conta às greves dos professores, não me lembro de ver tantas greves assim. Parece-me que o gajo da Fenprof (que para além de já ninguém o poder ouvir, também já ninguém o pode ver) está a retirar daqui muito proveito pessoal (queres é aparecer, como diz O Chato) e político (os sindicatos são comunas e mandam no país se quiserem, depois digam que na Coreia do Norte é que é regime ditatorial...). O direito à greve faz sentido e concordo com ele. No entanto, a greve existe para marcar uma posição e penso que com tanto protesto se vai perdendo o efeito. Já não se sabe que posição se defende (eu pelo menos não sei), não se entende o critério da marcação de greves (é todas as semanas, basicamente), é uma desordem social tão desordenada que ninguém sabe bem o que anda a fazer. O Ministério já cedeu em alguns pontos (pelo menos pelo que tenho lido), os sindicatos não cederam em nada. Haverá culpas dos dois lados, acredito que sim. A Ministra é um pouco arrogante nas declarações, mas a arrogância parece-me não estar só de um lado. No fundo, estamos perante um debate infantil. Como quando uma criança nos pede muito um chocolate, nós não damos de início. Depois de muito custo, damos. E o puto diz "Agora também já não quero". Estes debates parecem-me isso. Os professores agora já não se contentam com as alterações, sejam elas quais forem. Ainda assim, algo me diz que 120.000 pessoas não podem estar todas enganadas... Mas de qualquer forma, há formas mais sérias de mostrar o descontentamento. Este exemplo de desordem e protesto constante não é o melhor exemplo a dar aos alunos...

P.S - Vejam o filme "A Turma" (em francês "Entre les murs"). É um grande filme e é sobre o tema. Passei a respeitar ainda mais a profissão de professor.