Jamais suportaria o silêncio de o perder. Companheiro infalível de viagens, de aventuras e descobertas. Arma indispensável no combate ao tédio e mau humor. Ouvinte atento e sábio conselheiro. Sim, poderia substituí-lo facilmente por um parecido. Mas não ouviria o mesmo. É como o primeiro kebab que se come no Quinta do Billzzz. Imaginem agora a minha cara quando descobri que a pequena maravilha foi passear para a máquina de lavar, muito bem aconchegadinho no bolso do casaco verde da natura. A culpa na cara da minha mãe, o pranto na minha. Provavelmente achava que estava na hora de lavar o que oiço. Inanimado, não respondeu ao play. Pode ser falta de bateria, arranquei eu das catacumbas da esperança. Faço a viagem que me separa do computador, em passos leves para fintar a má-fé, ponho o bicho em contacto com o carregador. Dez intermináveis minutos depois vejo a luz! A luz verde, da vida, como quem desperta de um longo sono. Phones nos ouvidos e nem quero acreditar. Ele está vivo! O i-pod sobreviveu à trucidação da máquina de lavar, aos tides e secagens com uma heroicidade incapaz de ser guardada em apenas dois gigas.
Senhor Apple, se me está a ler faz muito bem, e fique também sabendo que se um dia me pedirem para escolher um objecto que me acompanhe numa viagem dentro de um acelerador de partículas, esse objecto será sem dúvida a sua mais fantástica criação.
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