quarta-feira, 4 de junho de 2008

"Como se diz? Cheiro a Verão, acho" ou consequências de ter pouco para fazer

A que cheira o Verão? O que sentem no ar? Que recordações percorrem a vossa mente? Hoje está (esteve) uma noite de quase Verão. Não é pelo calor, pois o cobertor ainda é obrigado a fazer companhia ao indefeso lençol, nem pelo céu limpo, provavelmente o dia vai ser chuvoso, como os últimos noventa e oito, mas hoje voltei a sentir a nostalgia. Timidamente e sem o vigor e a pontualidade de outros tempos, o nosso estimado Sol já começa a preparar o ambiente. A ideia de andar só de t-shirt já começa a fazer mais sentido. Inspiro fundo e perco-me em corredores vagos e ténues. Flores, cheiros fortes e adocicados, as tardes passadas no quintal, a alcatifa liberta uma essência mais abafada, mais intensa nesta altura, a antiga casa, a certeza de não ter nada para fazer – o não fazer nada no resto do ano é um fugir às responsabilidades, nesta época é uma actividade – acordar com a segurança que está imenso calor e que a manhã já passou, planos incertos, sempre alterados no último instante. Esplanadas, noites longas apimentadas com imensas conversas sobre tudo e sobre nada, cerveja gelada. O constante suor, aquela humidade que não nos deixa secar depois do duche (dois por dia no mínimo). Bichos, de toda a espécie. Fechar os olhos e olhar para dentro, como diz a minha avó, na cadeira da varanda, enquanto se ouvem, cada vez mais ao longe, os miúdos a jogar futebol no ringue. Desesperar porque não consigo alcançar a forma de ter a casa fresca e liberta de moscas. Ficar na cama. Acompanhado. Encontros e desencontros. Gerês. Ir. Caminhadas até ao Good Jesus. Quem vem para o Benfica? Implorar por um pouco de frio, está tanto calor que não se aguenta! Reminiscências, memórias, recordações, rotinas…não passam disso, trazidas numa brisa suave enquanto conduzia pelas ruas da cidade. O carro, o cheiro característico do seu interior, a música…esta viagem provoca em mim um torpor e uma letargia antecipadas capazes de porem à prova a resistência física e psicológica de qualquer ser, típica dos meses que se aproximam. Consequentemente, todos estes estímulos despertam um desejo de recuar no tempo, não de o fazer avançar até Agosto. É saudade, parece-me. A convicção de não querer fazer nada, a sensação de falta de força para alterar rumos. Ainda bem que os ponteiros do relógio do Maior só avançam, não recuam, caso contrário há muito que me tinha perdido na ilusão e sonolência de brumas passadas.

2 comentários:

Pedro Indy disse...

Há gajos que escrevem posts longos só para dizer que tomam banho duas vezes por dia!

:)

Concordo que o Verão não seja só o calor. É tudo o resto tal como descreveste. Desde que voltei à Guiné, após as férias de Natal, não visto outra coisa que não seja t-shirt e no entanto não me sinto no Verão, no Verão da nossa terra, esse Verão de que falaste, o da esplanada, da cerveja gelada, das noites longas a falar de tudo e de nada.

Já falta pouco. Havemos de marcar outra "excursão" a Baiona.

Anónimo disse...

Foste Verão...