quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Aceitam-se títulos

Ainda não tinha adormecido e já me sabia acordado com o corpo massacrado pelas dores. Dores de cansaço, como se cada músculo gritasse de desespero, implorando por menos agitação. Dores de um doer generalizado que começa cá dentro, no peito, junto ao coração apertado. Dor. Acompanhada por uma agonia extenuante que me impede de abrir os olhos secos e ardentes. Uma dor lânguida e preguiçosa, criada por milhares de martelos estilhaçados contra os braços, as pernas, o peito, as mãos, que me deixam dorido, moído, desidratado. De força, de vontade. Acordei com as gotas de água a pedirem para entrar. O que as acompanha não é melhor e mais uma vez o despertador insiste em demitir-se do seu cargo infeliz. Não quero, mas tem de ser. Meto requerimento aos músculos – prometo que mais logo vos dispenso. Pedido aceite com contestação, arrasto-me até ao estore. O que ele me mostra atira-me para o leito novamente. Não quero, mas tem de ser. Não é só por estes lados, parece que o mundo está cinzento, todo ele coberto de bafio, de tristeza, de ar parado. As nuvens marcam presença, qual grupo de gajos grandes no corredor da escola, ameaçam pela figura, desencorajam pelo olhar. Não quero mas tem de ser. Enfrento o chuveiro e a toalha com coragem e desafio a rua, de estômago reconfortado – hoje não levo guarda-chuva. A minha história é colorida por estudantes de física quântica que abandonaram as partículas num canto e se dedicaram à culinária, é desenhada por contabilistas que subtraíram a máquina de calcular e voaram para o Quénia multiplicar as ajudas. Personagens que abraçaram a vontade. No fundo, loucos. A minha loucura é acreditar que sou mais do que horários de entrada, bases de dados e dinheiros. Se assim acontecesse com todos provavelmente o mundo saltava dos eixos. E deixá-lo saltar, reitero eu. Não tem de ser mas eu quero.

6 comentários:

Mestre Moé Lá disse...

Vamo-nos habituando, como tem que ser... Ou então não tem que ser...

Anónimo disse...

txx...que qualidade. Pelas primeiras linhas pensei que tavas a falar da ressaca..

Mariana

S. G. disse...

isso é que é mesmo de malandro :)

abraço

butterfly disse...

já um dia destes alguém, provavelmente tu, escreveu qq coisa neste sentido...

é uma merda, tb me sinto presa, ATADA, todos os dias a uma rotina que não é a minha, a que eu escolheria para mim... dizem que é a vida...

Unknown disse...

só para avisar k este txt teve como inspiração vital umas merdas k eu lhe disse no msn

Unknown disse...

reli o txt em voz alta, mas com um sensual efeito tipo voz rouca, e fico mm fixe. tipo Mickey Rourke