sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Carne. A cru

Recheio-me de expectativas, tempero com uma ou outra fantasia e alimento a imaginação. Passei o dia a pensar na viagem nocturna. Oiço na rádio que o salão está ao rubro, numa reportagem em directo – as esperanças crescem. Só comecei a captar a realidade do acontecimento quando passei a entrada e comprei o bilhete de estudante. Mas aí, a sensação é de frieza. Um espaço demasiado aberto e pouco preenchido fita-nos sem preconceitos. Demasiada luminosidade, poucas cores e tudo ao alcance de um simples olhar. As casas de banho não têm papel higiénico e cruzamo-nos com o maior nerd, com pais, avós e engravatados em geral. O resto são jovens curiosos e alguns amantes do tuning. Rapidamente se percebe que os preliminares já foram, que o erotismo fez strip e desapareceu. Os stands exibem orgulhosos e imponentes falos de todas as formas, feitios, tamanhos e cores. Stands de salão erótico que também podiam estar representados na Agro, ou mesmo na feira do livro. Falta atractividade, sensualidade. Falta o mais importante no sexo, não desvendar tudo por 5 euros. A verdadeira animação vem dos diferentes palcos. E aí, eu me confesso. Passo revista em redor e só vejo carne. Passeio o olhar pelas bancas do talho e, como seria de esperar, encontra-se um pouco de tudo, um pouco para todos os gostos. Desde a pá até ao novilho, passando pelo entrecosto. Alguma picanha, argentina. Carne, crua. Não cozinhada, muito menos temperada. Boas, magras, bigodinho, sem bigodinho, gordas, feias, lésbicas, miúdos loiros convencidos que são gays, transexuais, travestis, amadoras, tímidos empurrados pelos amigos, casadas nas mãos do striper, celulite como se tivesse numa qualquer praia algarvia, enfermeiras e varões. Muitos varões. 5 euros e assisti a um show lésbico que envolvia duas polícias, pistolas, línguas e cada vez menos roupa e vontade, de todos os intervenientes. 1 euro e provavelmente apareci numa filmagem de um filme pornográfico amador. Amador, ao ponto do rapaz começar cheio de força e parar passados cinco minutos, envergonhado e com menos pujança…muito menos. Não censuro nem troço, a pressão (do público) era abafadora e a companheira esmagadora. Em peso, claro. Filmagens interrompidas depois de várias tentativas de reanimação, seguimos para uma qualquer montra. Sempre que uma dançarina inicia o seu espectáculo, junta-se um considerável número de entusiastas e observadores, famintos, fantasiosos e desejosos. Sempre que uma dançarina pede a colaboração de um solícito espectador, abrem-se buracos na coesão grupal, por coincidência os atentos assistentes vislumbram uma demonstração mais interessante e infelizmente dispersam. Curiosamente, mal alguém assume a responsabilidade, os visitantes percebem que esta é a melhor demonstração e voltam, sempre prestáveis e ávidos. Chego à conclusão que tudo não passa de masturbação mental – entusiasmo-me, entusiasmo-me ainda mais, um pouco mais, atinjo o topo, ejaculo e só quero dormir. Tudo isto mentalmente, porque fisicamente...não existe um único movimento muscular, suspiro ou ofegar involuntário.

O saldo é positivo – dois beijos, uma foto e autógrafo com dedicatória dessa lenda viva (mas mantida em formol e botox), Cicciolina. Por outro lado, tão cedo não voltarei a ver pornografia.

5 comentários:

Mestre Moé Lá disse...

O Chou Riçá é um naughty boy.

Anónimo disse...

Desta n estava à espera... sempre a surpreender. Txt brilhante :)

Kiss, Mariana

Anónimo disse...

:) não se pode morrer (muito) burro!!
ehehe

bjs

Chou riçá

Anónimo disse...

Boa noite, Mariana!

Venho por este meio lamentar profundamente todo e qualquer mal-estar que as minhas palavras (http://pimbapimbapimba.blogspot.com/2008/09/depresso-artstica.html) te possam ter causado. Penitencio-me muito por isso! Uma vez mais, peço desculpa!

Dr. Etc.

Anónimo disse...

Fotografias que é bom...nada!