Já viste o meu telemóvel? Toda a gente diz que preciso de comprar um novo, de o substituir. E é tão fácil hoje em dia, a oferta é tanta, os preços tão tentadores, funcionalidades que nunca mais acabam. O meu dificilmente se deixa ver, o ecrã está sujo, como que nublado, com muita claridade não vês nada. Só riscos, de anos a andar no bolso das calças, convivendo com moedinhas sujas e cartões meios perdidos. É preciso técnica, fazer sombra com a mão. A memória também já passou o seu apogeu. Por vezes, não consegue armazenar toda a informação que lhe chega, parece confuso e cheio. Cheio, de farto, de sobrelotado. Também, as mensagens antigas são incontáveis, foram perdendo o seu significado e agora amontoam-se por peso na consciência. Talvez uma lavagem não lhe fizesse mal, uma nova selecção. Assim como da lista telefónica, a abarrotar de números e nomes agora anónimos e inúteis. Coitado, não sabe escolher o que é importante sozinho, nem o que e quando apagar. As novas mensagens vão-se amontoando e esperam por resposta, sempre tardia e não raras vezes, incompleta. A bateria, viciada, constantemente ameaça desligar-se. Ela sabe que tem o poder de o isolar do mundo. Pode ser substituída mas ela é que manda. E tenho a convicção que no geral não está a usar todo o potencial que tem, não achas? A câmara, primitiva, já não vê um bom cenário há algum tempo. O calendário e a agenda nunca foram usados. Talvez a calculadora, para desenrascar situações embaraçosas. Nem os jogos, em tempos companheiros na luta contra o tédio, e agora arrumados em opções inutilizadas. Ah, e claro, há muito que o calei, só uso o modo vibração. Os toques irritam-me. Se calhar andamos os dois com falta de paciência. Os novos telemóveis trazem disso?
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
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