Como começou? Talvez tenha sido com uma pequena fuga de água que lhe permitia atingir temperaturas estonteantes, ao ponto de ter que parar na auto-estrada. Claro que esta doença fugia ao seu controlo, não o posso culpar. Acontece. O mau feitio é que já não acontece. O não obedecer já é uma constante. O vidro de trás do lado direito não abre nem fecha, ou melhor, vai abrindo à revelia do botão, deslizando pelas borrachas até provocar uma ligeira corrente de ar, um friozinho que incomoda dentro do carro, quando conduzo a velocidade elevada (mas sempre dentro dos limites…do próprio carro). Para o fechar tenho que puxá-lo à lá old school, uma mão de cada lado e cá vai disto para cima outra vez. A porta de trás do lado contrário ao vidro manhoso não abre. E desta vez é mesmo não abre. Não há manhas nem truques. Simplesmente o fecho deixou de funcionar, e ainda bem que não morreu no modo aberto. O tecto de abrir viu toda esta insubordinação passar incólume e também se demitiu de funções, com uma agravante – abrir tudo bem, sim senhor, mas fechar já não é com sua excelência. Embora possa parecer divertido andar com o tecto de abrir corrido em dias de calor, por esta altura não é nada agradável. Mesmo. Pelo meio isto. O alarme dispara sempre que eu entro. Pronto, exagero de quem escreve emocionado. O alarme dispara sempre que se abre a porta do condutor, o que, curiosamente, é algo frequente. Para nem falar no leitor de cd´s que só os lê nas primeiras terças feiras de dois em dois meses.
Até aqui, admito que com algum desconforto, conseguia sobreviver. Em dias regados com boa disposição até encontrava alguma piada nestas artimanhas. Porém para sua excelência de passo acelerado e olhar altivo não era suficiente. Não. Necessita fazer jus ao apelido de temperamental. Como? Pelo mais básico. Brindar-me a toda a hora com a incerteza. Aproximar-me tenso, abrir o carro, desligar o alarme à sexta tentativa, sentar e respirar fundo. O momento que marcará o rumo do dia – chave na ignição, primeiro rodar. O ansiar, a expectativa, a dúvida. E o drama, já agora. Segundo rodar e…nada. Absolutamente nada. Um ligeiro estalido proveniente do mais recôndito, do mais fundo do motor. Não me apetece andar. E eu que faço? Engato em quinta, empurro um pouco para a frente e para trás – um leve baloiçar como um brinquedo de criança – e espero que resulte. Por vezes sei que fica satisfeito só por me ver fazer estas figuras no estacionamento. Outras, como aconteceu à dois dias, não arreda pé, literalmente, e eu como só preciso novamente dele no domingo não lhe ligo, desprezo-o e mantenho-o ao alcance do orvalho que cai implacavelmente. Domingo lá terei que o empurrar rua abaixo para tentar impor alguma autoridade, há muito perdida.
Sempre que oiço falar em carjacking penso, inevitavelmente, no azar que os senhores teriam se tentassem isso com o meu (está visto que não me pertence). Aliás, penso que esta seria uma novidade neste ramo – eu é que impingia o carro aos supostos assaltantes. Soubessem eles do mau feitio e fugiam, a sete pés.
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