O povo português é triste. Chavão que até a esta alma banal e empedernida causa agonia e arrepios, e não dos bons como se nos tivessem a lamber a orelha. Orgulhosamente ostentamos a bandeira da saudade, como se fossemos os únicos a senti-la. Apregoamos alegremente a soturnidade do fado como se de uma boa canção de blues se tratasse. Nada contra. Eu próprio fico mal disposto de cada vez que entro na loja do cidadão. O bom humor mascarado nas caras carrancudas (muito bem mascarado e escondido, por sinal) já é tão genuíno como o torcicolo natural do Horacio (ler com sotaque inglês). Toda a taciturnidade, atribuída do alto da nossa melancolia, a quem nos rodeia só espera por uma boa queda, um rasgo de sol ou apenas por um sorriso para esmorecer. Mas eu sou diferente. Não sou vítima dos meus genes, nem tão pouco do estado do tempo. As minhas preocupações não são fúteis. Sofro da auto-diagnosticada e por mim baptizada “Depressão Artística”. Um taxista a enfrascar cerveja numa tasca é triste, quiçá deprimente se o Benfica tiver perdido. Já uma pessoa como eu afogar-se em whisky no seu sofá de couro enquanto ouve Jeff Buckley e reflecte sobre grandes temas que nunca terão solução, como as relações, fé ou o lugar do Aimar no onze do Benfica, emana estilo. Ou acordar às 17h da tarde para percorrer a casa de boxers e esperar pelos Morangos, tal como no dia anterior, e no anterior ao anterior, em ciclos cada vez mais apertados e asfixiantes. Se eu tentasse mudar a situação e não conseguisse caí a máscara. Eu não tento mudar. É uma melancolia contida e realizada. Se desperta em mim um sentimento de negrume incontido, um rasgo de desespero sofrido, eu agradeço, porque dá-me profundidade, concebe-me toda uma aparência de alma maltratada, incompreendida. Procuro ter problemas mesmo que o único tormento tenha sido o churrasco de porco do Zé (não é o Zé que é porco) (o churrasco de porco do Zé (não é o Zé que é porco) é muita bom, aconselho vivamente, só que passado meia hora transforma-se na pior experiência de digestão, principalmente se tiverem comido a cebola toda). Vejo-me assim transformado em alguém cuja paciência esgota-se em segundos, deprimido, mesmo consciente de não existirem razões para isso, cansado do mundo e com vontade de gritar. Tudo isso cria uma aura de mistério e tormento, que por sua vez provocam preocupação nos demais que teimo
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Depressão artística
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